Recentemente, tive a oportunidade de participar da Comic Con Experience 2018 (CCXP), marcando meu terceiro ano consecutivo no evento. Além do meu interesse pela cultura pop, acompanhei minha filha e meu sobrinho, ambos entusiastas de “Cosplay” – a arte de se caracterizar como personagens favoritos. A CCXP, que recebeu quase 100 mil pessoas em sua edição de 2014, surpreendeu com mais de 260 mil participantes neste ano, mantendo um ticket médio de R$300,00. Esses números impressionantes pintam um quadro de magnitude.
Minha filha decidiu incorporar a personagem “The Bent Neck Lady”, da série da Netflix “A Maldição da Residência Hill”. O processo de escolha e preparação para o Cosplay iniciou-se meses antes, envolvendo aquisição de figurinos, acessórios e maquiagem. A família inteira participou, contribuindo com tarefas como costura e aquisição de materiais. Meu sobrinho, por sua vez, encarnou um personagem do jogo “Fortnite”, um fenômeno com milhões de jogadores em todo o mundo. A procura incessante por fotos com crianças reforçou a popularidade entre os jovens. O que chama atenção no Cosplay é a conexão íntima que as pessoas têm com os personagens, séries ou universos dos jogos, levando-as a querer vivenciar e ser parte da experiência. Essa aspiração reflete o desejo de muitas marcas de estabelecer uma ligação tão profunda com seu público.
No entanto, ao vivenciar o evento, algo chamou minha atenção. Algumas empresas concederam prioridade aos visitantes caracterizados em seus estandes. Apesar de reconhecer que priorizar pessoas em um evento de grande porte pode ser delicado, testemunhei a decepção de minha filha no estande da Netflix – uma expectativa bastante aguardada por ela. Seria valioso se os colaboradores da Netflix estivessem preparados para tal situação. Infelizmente, ela passou despercebida, mesmo gerando interesse e admiração devido à originalidade de sua caracterização. Este seria o momento perfeito para valorizar a relação dela com a marca Netflix e a série que ela representava. Afinal, algumas empresas pagam para ter Cosplayers em seus estandes, enquanto ela estava lá, impulsionada apenas pela paixão pela série e personagem. Embora o estande oferecesse um cenário para fotografar ou gravar o Cosplay, fomos obrigados a nos espremer por espaço. Meu sobrinho visitou estandes de empresas de jogos e produtos para o público jovem, mas em nenhum momento foi convidado para uma foto ou vídeo que pudesse divulgar as marcas nas redes sociais. Este fenômeno tem até um nome: “micro influenciadores”. Sara Kleinberg, Head of Ads Research do Google, discute isso em sua entrevista sobre como pessoas comuns se tornaram os verdadeiros influenciadores.
O marketing é fascinante! Gastamos recursos substanciais para levar adiante nossas ideias, adquirindo espaço em eventos de grande envergadura, mobilizando equipes para criar e montar estandes, contratando especialistas para garantir a organização e envolvendo os estrategistas digitais. Entoamos a importância da “experiência do cliente” como um mantra diário, porém, frequentemente negligenciamos os pequenos detalhes que efetivamente compõem uma experiência satisfatória para o cliente. A questão é: o foco real está no cliente e em sua experiência? A reflexão que deixo é para que pensemos grande, mas não percamos de vista os pequenos detalhes. Isso não diminui o brilho do evento ou das marcas envolvidas, como mencionei a Netflix a título de exemplo, pois poderiam ser diversas empresas presentes.
Em última análise, a harmonia entre grandiosidade e detalhes precisos é fundamental para conquistar não apenas a atenção, mas também a admiração e a lealdade do público. Ao abraçar uma abordagem holística, as empresas podem garantir que seus esforços de marketing não sejam apenas notáveis, mas também memoráveis, criando conexões genuínas e duradouras.