Lembro-me de um período em que trabalhei no estoque de uma rede de lojas de roupas masculinas nos anos 90, aqui em Belo Horizonte. Embora minha contratação inicial tenha sido como auxiliar de TI, acabei me envolvendo em uma história intrigante que revelou a importância de enxergar oportunidades além do óbvio.
O estoque central era o epicentro dessa narrativa. Recebíamos mercadorias dos fornecedores e as direcionávamos às lojas, com preços e tamanhos de acordo com as vendas de cada filial. Esse ambiente, situado em um prédio de alguns andares, na área nobre da cidade, era compartilhado com a garagem. Lá, encontravam-se também os itens não vendidos, como roupas levemente defeituosas (LD) devido a mau manuseio ou manchas de ar-condicionado. Era um cenário curioso, embora desafiador.
Quem trabalhou no comércio nas décadas de 80 e 90 compreenderá o contexto. A equipe incluía uma chefe de setor crítica, uma supervisora amigável porém exigente, e um dono de empresa que impunha respeito. O dono era figura intrigante, admirado por sua elegância e estilo de vida. No entanto, sua sala no último andar era temida pelos funcionários, pois suas aparições geralmente resultavam em reprimendas. Não havia liderança pelo exemplo.
As roupas com defeitos leves eram armazenadas no estoque, em um móvel atrás de uma cortina. Com o passar do tempo, a promessa era de que seriam descartadas. Mas um dia, uma ideia surgiu. Por que não vender essas peças encalhadas? Seria uma oportunidade de lucro para a empresa e para mim. No entanto, para avançar com a proposta, precisava obter aprovação da chefia.
O temido dono da empresa era a figura final a ser consultada. Decidi abordá-lo quando ele estava prestes a sair do escritório. Para minha surpresa, ele ficou receptivo e até empolgado com a ideia. Ele instruiu a supervisora das lojas a avaliar as mercadorias. Com sua aprovação, passei um fim de semana organizando as peças e as trouxe para casa. Nosso quarto se tornou um showroom improvisado, onde minha namorada e eu lavamos, passamos e organizamos as peças.
Nossos esforços valeram a pena. Vendas bem-sucedidas foram concretizadas, quase tudo foi vendido. O que aprendi com essa experiência me acompanhou desde então, especialmente nos negócios B2B que conduzo hoje. A lição mais valiosa é que devemos estar atentos a oportunidades que muitas vezes estão bem à nossa frente, apenas esperando para serem descobertas. Essa capacidade de identificar possibilidades requer compreensão da dinâmica do negócio em que estamos inseridos.
Outra lição importante é evitar julgamentos precipitados e abraçar o movimento. Em vez de dizer “não” antecipadamente, devemos explorar o potencial de nossas ideias e acreditar em nosso instinto empreendedor.
E você, que lições tirar desta história?